
Airsoft
Tendo em consideração os custos para os equipamentos no airsoft são precisos entre 200 a 500 euros para federar o jogador, comprar uma arma e alguns acessórios básicos (óculos de segurança, cotoveleiras, joelheiras, capacete, etc.) que considere relevante.
7 mil praticantes
em Portugal
O presidente da Associação Nacional de Airsoft (ANA-APD), Pedro Caldeira, explica a modalidade. «É tipo paintball mas não tem nada a ver», disse.
Quando falamos de uma atividade desportiva que usa réplicas de armas para simular cenários de estratégia militar, sem recurso a esferas com tinta, falamos de airsoft e não de paintball.
São muitas as diferenças entre o airsoft e o paintball. Começa nas regras que define a prática de um e outro. Para jogar paintball não é preciso ser federado, associado ou ter equipamento próprio. Basta juntar um grupo de amigos, alugar um campo, equipamento e passar um momento de descontração. No caso do airsoft, para jogar é preciso estar inscrito numa associação promotora de desporto, ter equipamento próprio e cumprir as regras estipuladas.
«Não tem uma vertente tão comercial como o paintball»

As munições no paintball não são reutilizáveis. As bolas de tinta, usadas no paintball (ver imagem à esquerda), são bastante caras em relação às BB’s de airsoft (projéteis de plástico ou composto biodegradável, ver imagem à direita). É normal que um jogador de paintball gaste mais de 30 euros em bolas de tinta num jogo. Enquanto para o airsoft um saco de aproximadamente 13 euros dá para 3000-5000 BB’s (dependendo do peso das bb’s). Alguns jogadores podem gastar um saco de BB’s num dia. A maioria não. Depende inteiramente de seu estilo de jogo e do jogador.

Munições de paintball
(cápsulas de gelatina, com tinta no interior que serve de marcador durante o jogo. Existem de várias cores)
Munições de airsoft
(projéteis em plástico ou compósito biodegradável, disponíveis em variadas gramagens, níveis de acabamento e tonalidades)
O airsoft é um jogo com recurso a armas de softair, réplicas que projetam bolas de plástico de diferentes gramagens.
Por vezes são publicadas notícias sobre crimes ou tentativas levadas a cabo com “armas de brincar”. É raro encontrar um artigo onde estas “armas de brincar” são identificadas como as réplicas usadas no airsoft.
Esta reportagem procura compreender que armas são estas, como se processa o jogo e qual o perfil dos praticantes desta modalidade amadora que, em Portugal, já conta com milhares de adeptos.
Não é o Iraque, a Síria ou o Afeganistão.
Estamos em Portugal. Airsoft é só um jogo.
Quem joga airsoft?
Há 10 anos atrás os jogadores em Portugal tinham 30 anos e algum poder económico para suportar o hobbie. Hoje, são jovens a partir dos 16-18 anos (pelo enquadramento legal exigido) e de classe média porque o preço do material necessário para jogar diminuiu.
Filipe Costa joga airsoft desde 2008. Pertence à equipa DevGru, tem 34 anos e de profissão é operário fabril. Considera a prática de airsoft uma consequência natural porque quando era criança gostava de brincar aos cowboys e índios. Mais tarde veio a conhecer o paintball mas foi o airsoft que o conquistou.
Pedro Caldeira, vice-presidente da Associação Nacional de Airsoft (ANA-APD), deixa um recado àqueles que temem pela sua segurança por causa do airsoft.

Alguns elementos dos GUP - Guerriilha Urbana Portuguesa
Ricardo Nunes joga há um ano. Hoje é responsável pela equipa dos GUP – Guerrilha Urbana Portuguesa. Na grande Lisboa são a equipa com os maiores campos reconhecidos para a prática de airsoft em cenário urbano.
A sociedade pouco sabe sobre airsoft
A sociedade civil pouco sabe em relação ao airsoft, as suas regras ou a lei das armas. Considera as réplicas como «armas de brincar» e não sabe exatamente para que servem ou o que leva estas pessoas a «brincar às guerras».
Mas também há quem nunca tivesse ouvido falar da modalidade como Telma Pitorra. A jovem de 28 anos considera que o perigo da prática de airsoft está nos jogadores. «O perigo depende das pessoas que o praticam. Se souberem distinguir a realidade da ficção acho que não é perigoso para a sociedade».
Há quem esteja contra a prática de airsoft por considerar que é uma modalidade pouco fiscalizada e «muitos praticantes de airsoft se armem em Rambo ou Legionário». Esta é a opinião de Bruno Marriço que ainda sublinha que alguns praticantes «usam adereços do exercito português mas se os mandassem à tropa choravam.... durante umas horas são os mercenários com o Arnold Schwarzeneggere com o Sylvester Stallone».
Por outro lado, David Cavaleiro, apesar de nunca ter experimentado airsoft já tinha ouvido falar, e considera que «devido aos jogos de guerra que existem hoje em dia e aos filmes, as pessoas procuram experimentar um pouco aqueles cenários. Talvez por isso existe o gosto pelo airsoft por parte de algumas pessoas».
![]() Em 2003Nos primeiros jogos de airsoft em Portugal as armas não eram pintadas mas os jogadores já usavam todos os acessórios necessários para dar o maior realismo possível ao jogo. | ![]() Também há viaturasÉ comum haver jogos organizados em parceria com forças de segurança nacionais para treino e os veículos de combate também fazem parte do cenário. | ![]() Alteração à Lei de 2006Devem ser pintados «5 cm a contar da boca do cano e na totalidade do punho, caso se trate de arma curta, ou em 10 cm a contar da boca do cano e na totalidade da coronha, caso se trate de arma longa» - (ag do art. 2, Lei n.o 12/2011. |
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![]() Réplica da M4A1Diz a Lei que a réplica deve ser pintada «com cor fluorescente, amarela ou encarnada, por forma a não ser susceptível de confusão com as armas das mesmas classes», alínea ad, art. 2, Lei n.o 5/2006. | ![]() Ainda a alteração à Lei«As reproduções de arma de fogo para práticas recreativas poderão ser objecto de ocultação das partes pintadas exclusivamente durante o decurso das provas ou atividades, devendo essa alteração ser imediatamente reposta após o seu termo», 13 art.9, Lei n.o 12/2011. | ![]() São armas de 1,3 joulesA potência de propulsão está compreendida entre os 2 e 7 joules, em geral, a nível europeu. Em Portugal a lei em vigor limita a potência aos 1,3 joules. |
![]() Jogos de mato e urbanoSão vários os cenários disponíveis no país. Há equipas que preferem jogar ao ar livre e outras recorrem a locais urbanos abandonados. | ![]() PreservaçãoEm ambas as situações os jogadores de airsoft são ativos preservadores da natureza e dos locais onde realizam jogos. Limpam o local e cuidam para não degradar nem prejudicar o ambiente. | ![]() Airsoft solidárioAo longo do ano, um pouco por todo o país, as equipas organizam jogos solidários com recolha de bens e alimentos para instituições ou causas humanitárias. |
A mediatização do airsoft
A 21 de março de 2014 o jornal Diário de Notícias fez manchete com o número de armas “de brincar” apreendidas pela Polícia de Segurança Pública (PSP).
A Associação Nacional de Arsoft (ANA-APD) entrou de imediato em contato com o jornal e a PSP para procurar acompanhar a notícia e ter maior noção da situação em Portugal mas não teve qualquer feedback.
Também entrei em contato com a PSP para conseguir uma visão sobre a lei e os atuais praticantes de airsoft no país. Foi-me pedido que remetesse o assunto para o gabinete de comunicação e daí não obtive qualquer resposta até à data de publicação deste trabalho.

É frequente encontrarmos nos media portugueses notícias que dão conta de crimes, principalmente assaltos, com recurso a armas de arsoft, ditas «armas de brincar».
Uma notícia recente divulgada no site da TVI24 dá conta de uma tentativa de assalto a um banco, em Setúbal, levada a cabo por dois indivíduos com uso de «uma réplica de arma de fogo para intimidar os funcionários e consumar o roubo», segundo fonte policial avançada pela agência Lusa.
É difícil compreender se estas réplicas são ou não armas de airsoft e também não é fácil concluir se os indivíduos são praticantes da modalidade.
Também neste sentido tentámos sem sucesso apurar mais dados junto das entidades competentes, nomeadamente da PSP.
Como se organiza um evento de airsoft?
Em primeiro lugar é preciso avisar as autoridades, nomeadamente a PSP, sobre o evento, local, horário, número de participantes, entre outros aspetos. Depois há que considerar as regras mínimas de segurança no campo onde está previsto o evento.
É necessário sinalizar o local. Se for fechado deve delimitar-se o perímetro das atividades e os acessos a atividade devem de ser controlados. A informação sobre a realização do jogo deve estar visível em campo aberto a cerca de 20 metros de distância e o espaço entre a sinalética deve ser aproximadamente 50 metros. Quando as provas se realizam em período noturno a sinalética deve estar iluminada ou com dispositivos flourescentes.
Só as associações promotoras de desporto inscritas no Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) podem organizar eventos de airsoft.
Apesar de não haver legislação para o uso de acessórios, o recurso a capacetes, joelheiras, cotoveleiras, caneleiras, entre outros, podem prevenir lesões graves, em caso de acidente.
Para além do equipamento recomendado para a segurança, os adeptos de airsoft podem ainda adquirir fardas e/ou objetos (material de transmissões, coldres, etc.) idênticos aos usados em situações reais.
![]() ÓculosNão usar este equipamento pode causar lesões graves no sistema ocular, podendo cegar um jogador. É aconselhável o uso de óculos balísticos. |
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![]() LuvasProtege as mãos e previne lesões de cortes dos tecidos e tendões que envolvem mão e dedos. |
![]() JoelheirasProtege o joelho e previne lesões de roturas dos tecidos e tendões que envolvem a rótula no joelho. |
![]() CotoveleirasProtege o cotovelo e previne lesões de roturas dos tecidos e tendões que envolvem a rótula no cotovelo. |
![]() CaneleirasProtege a canela e previne lesões de fissuras e fracturas no fémur e cortes nos tecidos do membro. |
Material necessário para praticar airsoft
Desporto ou hobbie?
Uma das grandes questões de fundo do airsoft é não ser, até agora, considerado pelas entidades competentes como uma modalidade desportiva. Não existe calendário competitivo e há jogadores que defendem o airsoft como hobbie, sem quaisquer ambições competitivas.
Existem várias associações promotora de desporto onde o airsoft é rei. Recentemente, em 2011, foi criada a Associação Nacional de Airsoft (ANA-APD) que pretende ser o elo de ligação entre as demais associações e as entidades competentes.
A lei é ambígua e tem gerado várias ondas de indignação entre os praticantes de airsoft.
Alguns conceitos previstos na lei
«Arma de softair» - mecanismo portátil com a configuração de arma de fogo das classes A, B, B1, C e D, integral ou parcialmente pintado com cor fluorescente, amarela ou encarnada, por forma a não ser suscetível de confusão com as armas das mesmas classes, apto unicamente a disparar esfera plástica cuja energia saí da da boca do cano não seja superior a 1,3 J;
«Coronha» - parte de uma arma de fogo que se destina a permitir o seu apoio no ombro do atirador;
«Culatra ou bloco da culatra» - parte da arma de fogo que obtura a extremidade do cano onde se localiza a câmara;
«Punho» - parte da arma de fogo que é agarrada pela mão que dispara;
«Silenciador» - acessório que se aplica sobre a boca do cano de uma arma destinado a eliminar ou reduzir o ruído resultante do disparo.

Vídeo da autoria de Nuno Tavares (Stuntman), da equipa HOT - Hostile Operations Team
«Um agente de autoridade comporta-se de igual forma perante uma arma pintada ou não» - Pedro Caldeira (ANA-APD)
A alteração à lei das armas realizada em 2011 atualizou algumas das normas já em vigor.
«Quem, sem se encontrar autorizado, fora das condições legais ou em contrário das prescrições da autoridade competente, detiver, transportar, importar, guardar, comprar, adquirir a qualquer título ou por qualquer meio ou obtiver por fabrico, transformação, importação ou exportação, usar ou trouxer consigo reprodução de arma de fogo, arma de alarme, munições de salva ou alarme ou armas das classes F e G é punido com uma coima de 400 a 4 mil euros», ponto 1, art. 97.
Na anterior lei as coimas variavam entre 600 e 6 mil euros.
«Aos menores de 18 anos e maiores de 16 anos é permitida a aquisição de reproduções de armas de fogo para práticas recreativas desde que autorizados para o efeito por quem exerça a responsabilidade parental», ponto 4, art. 11.
Antes só era permitida a aquisição e uso de réplicas de armas a maiores de 18 anos.
«As reproduções de arma de fogo para práticas recreativas poderão ser objeto de ocultação das partes pintadas exclusivamente durante o decurso das provas ou atividades, devendo essa alteração ser imediatamente reposta após o seu termo», ponto 13, art. 11.
«A realização de qualquer prova ou atividade com reproduções de armas de fogo para práticas recreativas depende de prévia comunicação ao departamento competente da PSP e à autoridade policial com competência territorial, com a antecedência mínima de 10 dias», ponto 4, art. 52.
Petição online para alterar lei das armas
Dada a pouca unanimidade sobre o enquadramento da lei das armas e aquilo a que obriga os praticantes de airsoft, foi lançada uma petição online com vista à sua alteração.
Os assinantes consideram urgente «para salvaguarda do airsoft, inclusive para permitir aos praticantes nacionais que se deslocam a jogos internacionais, condições de equiparação aos jogadores estrangeiros, efetuar algumas alterações legislativas».
Entre outros pedidos surge a alteração da potência de propulsão permitida, para as réplicas dos atiradores especiais, “snipers”, para os 2,3 joules. É questionada a necessidade de pintar as armas e a existência de associações promotora de desporto reconhecidas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e registadas na Polícia de Segurança Pública (PSP) para uma modalidade amadora que não é reconhecida como desporto.
Um pouco de história
Foi em 1996 que o airsoft surge pela primeira vez em Portugal. Dois anos mais tarde, foi formado o Clube Airsoft da Maia cuja oficialização legal vira a surgir em 2004. O registo do primeiro evento aparece em 2001, em Évora, por iniciativa de Nuno Lino, da equipa Furões Airsoft Team, e Pedro Pastor, do Clube Airsoft da Maia. A iniciativa reuniu jogadores de Lisboa, Porto, Algarve e Alentejo. Nesse ano houve mais dois encontros nacionais de airsoft um decorreu em Paredes e outro em Setúbal. Aos poucos, a modalidade sobejamente conhecida pela forte recriação de cenários e táticas militares foi conquistando adeptos e hoje são vários milhares por todo o mundo. Em Portugal há cada vez mais equipas e jogadores que promovem eventos nacionais e com convidados estrangeiros.
As armas de airsoft pertencem, segundo a lei das armas, à classe “G”. A legislação prevê que sejam pintadas na íntegra ou parcialmente com cor fluorescente (amarela ou vermelha). São armas aptas a disparar unicamente pequenas esferas plásticas (BB’s) cuja energia à saída da boca do cano não seja superior a 1,3 joules.
As réplicas utilizadas no airsoft não são passíveis de adaptação para arma real e vice-versa
O lote de réplicas disponíveis no mercado é vastíssimo e abrange várias tipologias como de mola (springers), elétricas automáticas (AEG), a gás de corrediça móvel (GBB) ou fixa (NBB), pistola elétrica automática (AEP) e elétrica de corrediça móvel (EBB).
A utilização das mesmas deve obedecer a regras de segurança próprias sem descurar o uso de óculos de proteção e outros acessórios que otimizem a salvaguarda dos jogadores.
Exemplos de jogos
Para praticar airsoft é preciso conhecer alguns exemplos de estratégias militares. Os objetivos variam consoante o jogo, as equipas e equipamentos envolvidos mas a imaginação dos praticantes e das associações promotora de desporto são cruciais para essa criação.
Na galeria de fotografias abaixo é possível conhecer alguns dos jogos praticados no airsof.

Inspirado numa simulação tático-militar. Coloca em confronto duas ou mais equipas, em número de jogadores previamente estipulado, num ambiente natural ou urbano. Tem um ou mais objetivos, divulgados no início e no decorrer do jogo. Estes podem ser a eliminação da equipa adversária, a captura ou escolta de um determinado objecto ou jogador, o ataque ou defesa de um dado perímetro, etc., mediante a narrativa ou criatividade do jogo.

São caracterizados pelo seu dinamismo e simplicidade de objectivos. Geralmente promovem a atividade constante os jogadores e colocam menos ou até nenhumas restrições quanto ao uso de determinados acessórios e uniformes. Usualmente não impõem limite de BB’s, ou tipo de carregador.

Um piloto despenha-se algures no campo. Munido apenas com uma pistola ou arma de inferior capacidade à da patrulha inimiga, deve evitar essas patrulhas que têm rota predefinida, enquanto espera pela equipa de salvamento. O piloto deve ser evacuado para um ponto de extração por um Heli.

Inspirado numa simulação tático-militar. Coloca em confronto duas ou mais equipas, em número de jogadores previamente estipulado, num ambiente natural ou urbano. Tem um ou mais objetivos, divulgados no início e no decorrer do jogo. Estes podem ser a eliminação da equipa adversária, a captura ou escolta de um determinado objecto ou jogador, o ataque ou defesa de um dado perímetro, etc., mediante a narrativa ou criatividade do jogo.
O airsot é um desporto ou um hobbie? É difícil dizer. A verdade é que os portugueses estão a aderir cada vez mais a este tipo de jogos e quem o pratica garante não haver qualquer impulso ou incentivo à violência. Vale tudo pelo convívio, amizade, camaradagem e adrenalina. Mas também há que ser responsável e honrar as regras do jogo.
É verdade que não há muitas mulheres, se compararmos com o número de homens que praticam airsoft em Portugal, mas elas também “combatem” e não são de subestimar.
Muitos dos jogadores com quem me cruzei para fazer esta reportagem garantem que as mulheres são bem-vindas ao jogo mas “as suas”, por questões de zelo, ficam melhor em casa...
Afinal, é isto uma “brincadeira” só para homens?
![]() Interior de um carregador |
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![]() Sniper (mola) |
![]() Sniper desmontada |
![]() Pistola spring |
![]() Interior de uma GBB |
![]() Interior de uma AEG |
![]() Shotgun (mola) |
![]() Pistola (GBB) |
![]() Cyma Ak74u (elétrica) |